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terça-feira, 26 de julho de 2011

Explicando a um filho como são as mulheres.



"Gosto de imaginar que se eu tivesse um filho ele se chegaria um dia para mim, aí pelos 11, 12 anos, daria um daqueles suspiros introdutórios, eu pararia de ler o meu livro, esperaria um tempo, ele diria: “Sabe, pai, eu não entendo as mulheres”; e eu também daria um tempo, não lhe faria perguntas embaraçosas sobre a razão das suas inquietações, faria uma introdução genérica, e pediria que ele reparasse bem nelas, na maneira que elas têm de se colocar fisicamente no mundo, porque isso ajuda a perceber como elas são especiais, a perceber como o jeito de ser delas já solicita um jeito diferente de lidar com elas, e diria que quem não percebe isso não chega nunca a uma boa convivência com elas.
Veja, eu lhe diria, o jeito como elas param, esperando alguém ou no ônibus. Elas não se plantam em cima das duas pernas, como fazem os homens, pesados. Elas põem um pezinho um pouco na frente do outro, geralmente o direito na frente, e põem a ponta para fora, quase como numa posição de balé.
Repare, eu diria, no jeito de sair da piscina. Não dão aquele impulso e levantam logo o pé até a borda, como os homens. Não. Dão o impulso e primeiro sentam-se de lado na borda, depois tiram as pernas fechadinhas da água, só aí põem os pés na borda, com os joelhos erguidos e depois é que se levantam. Têm muito menos coisas para se ver do que os homens, ma se enrolam logo em toalhas, pareôs. Timidez? Não. Segredos.
Veja como andam filho, como mostram, muito mais do que o homem, a sua origem animal. Qualquer animal tem essa noção de espaço que as mulheres mantiveram esse estado de alerta, atentas aos movimentos em volta. E soltam o corpo ao caminhar, do jeito que os bichos fazem.
Repare filho, na maneira de discutir, seja sobre um filme, seja sobre uma relação. Elas desprezam argumentos lógicos, esse recurso pouco estimulante dos homens. Preferem a paixão, a emoção, por isso não se deixam nunca convencer, pois seria admitir que a paixão pode menos que a lógica.
Veja, eu diria ainda, veja o jeito de elas dirigem um automóvel. Dirigem bem talvez por causa daquela mesma noção de espaço que têm para caminhar. Mas repare como não deixam nenhum carro se desviar para entrar na faixa delas quando há um carro quebrado na frente, ou entrar na faixa delas vindo de uma rua transversal. Talvez, sei á, talvez seja o costume do ladies first, de sempre cedermos a passagem para elas.
Olhe como se sentam. Preste atenção como põem os joelhos e tornozelos juntinhos, e não é por estarem de saia curta, não. Sentam do mesmo jeito quando estão de calças compridas. É o jeito delas, de guardarem as coisinhas delas. Tem umas que viram os joelhos para um lado e passam uma perna por trás da outra; algumas até apóiam a ponta de um dos pés no chão e descansam o outro pé sobre o calcanhar daquele. Homem, você vê, é daquele jeito esparramado, grosso. Compare com a delicadeza do gesto delas.
Repare no modo de conversar. São de uma afetividade, de uma tagarelice, de um interesse que o homem não consegue. Detalhes e picuinhas dão colorido ao que elas falam. Mesma as mulheres eruditas são capazes de falar e de ouvir futilidades durante horas. Acho que elas gostam é da conversa em si, de musicalidade das vozes, como pássaros. Talvez os homens falem porque é preciso e as mulheres porque é gostoso.
Repare no olhar rápido com que elas fazem o inventário de uma vitrine
Veja, meu filho, eu diria, o modo de elas dormirem, compare. O homem se espalha, parece ficar maior na cama. A mulher diminui se acomoda, se adapta, cabe.
Essas coisas eu diria se tivesse um filho, e muito mais, sobre o jeito delas chorar, de dançar, de cozinhar, de correr, de tomar sorvete, de tocar nos cabelos, de paquerar - tantas coisas-, mas só tenho filhas, e filhas não precisam de explicação nenhuma, porque elas sabem filho, elas sabem como são os homens, esse óbvios".

crônica de Ivan Ângelo

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