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sexta-feira, 1 de abril de 2016




Conta pra ele que esse seu jeito descompassado não veio dele, mas de uns tantos outros que vieram antes. Não é mau moço, o rapaz- tem uns olhos bonitos, um sorriso meio torto, vê se que lhe falta disposição, é fato. Ainda assim, nada que o tempo e uns puxões não ajudem a mudar. 
Não mente pro moço, não que ele não merece tanto descuido. Não tem ânsias de te rasgar o peito, como lhe foi feito a um tempo atrás. Não é dos mais vivos, verdade. Fala manso, parece que se desliga do mundo vez em quando. É uma menina, por mais velha que seja.

O tempo foi duro com uns, mas macio com outros; disso voce sabe, mocinha. Cada um recebe o que o por acaso dá, então respire. Certas coisas são porque são. Se o mundo é seu conjugado do outro lado da rua, foi a vida que escolheu. Quem é que escolhe de onde vem?  Quem é que decide para onde vai? Uma coisa ou outra a gente faz acontecer- o resto é mais forte, mais rude, menos doce do que um simples querer.
O mundo não é mérito, é privilégio.
Conta pra ele que a sua necessidade de ser ausente é um belo capricho. Que lhe agrada o não-ser, o
não-existir. Fala pro moço, que voce gosta mesmo é de rir com todos os dentes e fazer piadas da rotina e transformar em notícia o espetáculo da desgraça alheia.

'' Mas voce é uma moça atraente '' , É o que dizem. É claro, pois sim. Espero que meus olhos tristes, mas bonitos, me salvem de mim, ela quase diz. Quase... Então sorri um sorriso largo e curva-se.
Sente-se preenchida de nada. Dia, menos dia.
Deita-se na cama limpa. Funde-se com as cobertas brancas. Sorri para o teto como se fosse um céu azul límpido. O quarto lhe cerca e acalenta. É o mais próximo de uma família que já teve,
então aceita. Dorme um sono sem sonhos, nada de novo para quem já deixou de esperar- esperar o que?
Tudo, talvez.
Dorme um sono de quem não sonha, e tão logo o despertador toca, e pensa: Hoje vai ser diferente.
Mas a mudança não vem.
Nunca virá, Talvez ...

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